A célebre frase de Rui Barbosa e o desconhecido contexto histórico em que fora pronunciada.
Sem dúvida
esta é a frase mais célebre de Rui Barbosa: “De
tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver
crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser
honesto.” ¹
Apesar de muito conhecida, principalmente no Brasil, poucos sabem do
contexto em que ela foi aplicada. Houve uma grave ruptura da forma de governo
no Brasil, que passou de Monarquia para República, esta defendida inicialmente
pelo eminente Senador Rui Barbosa, mas que depois de algum tempo, principalmente
no seu discurso no Senado em 17 de dezembro de 1914, passou a perceber que a Monarquia
brasileira tinha qualidades que superavam as da República exaltando a honra, a
justiça e a moralidade da sentinela vigilante – Imperador D. Pedro II - que
compara a um farol inapagável que guardava estas virtudes aqui citadas para o
bem geral.
Ao discursar sobre a análise dos documentos, objeto do requerimento do
Senador Rui Barbosa ao Ministério da Guerra e da Justiça diante do fuzilamento
de 9 presos ocorridos em dezembro de 1910, sob a escolta de um destacamento
militar à bordo do navio Satélite, que fora confiada a segurança destes, o eminente
político revela sua inconformidade com a situação de injustiça diante do crime
de mando envolvendo o Presidente, Marechal Hermes da Fonseca e seu o Ministro
da Guerra, este louvando o criminoso Tenente Melo, responsável direto pelos
crimes e o presidente dando-lhe uma promoção alegando “legítima defesa”.²
A viagem deste navio do Rio de Janeiro até Manaus foi resultado da
prisão de 105 marujos que se revoltaram motivados, sobretudo, pela insatisfação
com os castigos físicos, punições estas apenas aplicadas aos postos mais baixos
na hierarquia da Marinha (Revolta da Chibata), levando também como prisioneiros 44 prostitutas, 298
marginais e 50 praças do Exército para realizar serviços forçados no Amazonas
sob as ordens do Marechal Rondon.²
Esse discurso que contém a célebre frase, citada inicialmente, de Rui
Barbosa no Senado, em 17 de dezembro de 1914, poderia ser pronunciado hoje e com
certeza sem perder sua atualidade, apenas trocaríamos algumas figuras, mas as
injustiças perpetradas continuam as mesmas arrefecendo o ânimo do brasileiro quase
ao extremo. Esse discurso representa a
voz do povo brasileiro, o qual percebe de forma cada vez mais clara que os
acobertamentos estão intensos mesmo diante das mais contundentes provas de crimes
perpetrados por figuras públicas, ora prendendo, ora absolvendo, ora se
omitindo sob o manto da legitimidade da autoridade que deveria estar agindo
para efetivar a aplicação da lei para todos.
No decorrer do seu discurso aponta que “a mais grave de todas as
ruínas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a falta de punição
quando se aponta um crime que envolva um nome poderoso...”
Não haverá paz social sem justiça e por esta o povo expecta de forma famélica
a aplicação pelas autoridades competentes não importa quais injustiças ou quem as
pratique.
REFERÊNCIAS
1 BARBOSA, Rui. Discursos Parlamentares. Rio de Janeiro: Ministério
da Educação e Cultura, 1973. (Obras Completas de Rui Barbosa, v. 41, 1915, t. 3,
p. 91 e 92). Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pagfis=40965>.
Acesso em: 5 jan. 2022.
2 BARBOSA, Rui. Discursos Parlamentares. Rio de Janeiro: Ministério
da Educação e Cultura, 1977. (Obras Completas de Rui Barbosa, v. 38, 1911, t. 1,
p. 192). Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pasta=Vol.%20XLI%20(1914)\Tomo%20I&pesq=&pagfis=44672>.
Acesso em: 5 jan. 2022.
3 CARONE, Edgard. A República Velha. (Evolução Política). 2 ed. São
Paulo, Difel, 1974, p. 263.
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