A insatisfação popular com os modelos políticos atuais e a necessidade de adaptação diante de novas realidades sociais.

By Unknown author - Agência Brasil, CC BY 3.0 br, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=38972395
Manifestantes em Brasília durante os protestos de 15 de março de 2015.   
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Hoje irei falar sobre o que verdadeiramente importa para todos nós como seres humanos: vivermos com dignidade tendo nossos direitos respeitados ao invés de constantemente pisados. Há uma realidade dentro das dimensões irreais que muitos seres humanos são levados a viver para não enxergarem a obviedade de corações que vão se petrificando com verniz de diamante. Se você está satisfeito com a sua vida confortável posso dizer que isso é reconfortante apenas para ti e sua família, mas se a grande maioria da população mundial sente desconforto com suas vidas que são pesadas diariamente no prato da balança da injustiça, peço que me ouça com atenção para que se ainda não traz passe a trazer desconforto para ti.

São inúmeros os fatores que levaram a este estado de coisas, mas é necessário elencá-las porque se não conhecermos nossos inimigos como poderemos lutar contra eles? Diante das constantes e intensas mobilizações sociais impelidas por aspirações de melhorias nas suas condições de vida, o descolamento do poder político com a realidade nua e crua de populações muitas vezes desassistidas, percebe-se que o enfrentamento dos nacionais atingidos por este cenário revela quão insatisfeitos estão e quanto almejam a mudança que tanto buscam. Manifestações no Brasil, Chile, Colômbia e Cuba, por exemplo, escancaram um modelo político que não se conecta com a população e essa situação está longe de ser um problema apenas da América Latina.

O sistema econômico e financeiro é dominado por poucos grupos de banqueiros, o sistema financeiro corrompido pelo distanciamento dos bens de produção e a proximidade para não dizer colamento com a especulação tornam as bolhas especulativas cada vez mais prestes a estourarem. Este é o retrato do mundo em que vivemos: opulência, aparência e indecência que provocam mais e mais carências.

A austeridade fiscal é exigida para maior controle dos gastos nas áreas sociais e do pagamento de juros da dívida pública, mas a um custo altíssimo e impraticável para os países ditos emergentes, os quais vão se tornando caldeirões ferventes nas mãos dos que buscam remediar o já irremediável dissabor de vidas que não têm o que o ser humano mais precisa: alimentar os seus sonhos e buscar realizá-los na certeza de concretizá-los enquanto há vida.

Reformas legislativas com o objetivo de diminuírem investimentos nas áreas sociais para sobrar mais dinheiro a fim de quitar a impagável dívida pública e sem auditoria como a do Brasil aliadas a multiplicação dos ganhos dos investidores e rentistas internacionais pelo aumento abusivo dos juros bancários com a conivência do Banco Central do Brasil em detrimento da atividade produtiva juntamente com a aprovação estatal do massacre aplicado ao povo explorado por banqueiros cada vez mais ricos por este escandaloso modelo é um exemplo das explorações que o grande capital submete suas colônias atualizadas do século XXI a fim de obter lucros disfarçados de legalidade, mas com trajes rotos de milhões de mortes dos deixados à mercê por não se encaixarem num sistema que já começa desigual, individualista e essencialmente explorador.

Aumento dos juros na taxa Selic com a justificativa rasa oferecida à população brasileira de buscar “diminuir os preços dos produtos”, aumentados pela inflação, são mais um dos artifícios enganosos utilizados pela manutenção do status quo.

Enquanto economias sólidas estão com juros muito baixos, embora em alguns casos como os EUA, crescentes e menos intensos em suas alterações, o Brasil chega em níveis da taxa básica de juros (Selic) de 10,75% ao ano (a.a.), nível mais alto desde maio de 2017 quando a Selic estava em 10,25% a.a., bem diferente do início de 2021, quando a taxa de juros estava em 2%, menor patamar da série histórica do país, o que leva o Brasil para uma espiral de baixo consumo, alta inflação e maior custo para o pagamento dos juros da dívida pública, apesar do cenário servir para captar investimentos externos diante da desvalorização da moeda, porém com grandes chances de fuga destes capitais e não retorno desses valores para beneficiar a sociedade brasileira.

Novos pactos sociais através das forças das ruas diante das manifestações populares pressionam governos a estabelecerem novas Constituições como no caso de Cuba, Chile, Colômbia e Peru.

A América Latina é o epicentro deste descontentamento popular, região ainda com pouco investimento em tecnologias de produção de equipamentos e insumos voltados para a chamada indústria 4.0, o que gera uma desvantagem abissal entre países que investem bastante do seu PIB em educação e em Ciência e Tecnologia.

A legislação favorável para que a perpetuação do modelo exploratório-colonizador perpetue com o verniz quase que inconteste de uma norma perversa que contribui para a fome e pobreza de uma população enquanto que países exploradores mantêm suas estabilidades mediante a manutenção deste sistema de negociatas com parlamentares nacionais antipatrióticos e subalternos a interesses de outras nações.

O aumento do desemprego, a situação de vulnerabilidade social aliado ao baixo investimento em áreas vitais formaram, formam e formarão em diferentes pontos da América Latina, principalmente, a tempestade perfeita para que eclodissem, eclodam e venham a eclodir manifestações populares justas e muitas vezes oprimidas pelos mandatários políticos da vez.

Governantes autoritários fragilizam as democracias e descredibilizam as instituições nas tentativas de manipularem a opinião popular, minarem o Estado Democrático de Direito e desestruturarem o sistema político e estatal para implantarem novas ditaduras pelo controle dos meios de comunicação, do Poder Judiciário e dos parlamentares para ganharem mais poder através de subornos de importantes autoridades omissas ou gananciosas por promessas de cargos que poderiam impedir tais empreitadas.

Assim como a França e os EUA lutaram para se tornarem independentes de regimes monárquicos que oprimiam seu povo na segunda metade do século XVIII, há uma atual necessidade de buscar os direitos inalienáveis da felicidade, da liberdade, da igualdade e da vida que constam registrados da seguinte maneira na Declaração de Independência dos Estados Unidos da América de 1776: “sempre que qualquer forma de governo tenda a destruir esses fins, assiste ao povo o direito de mudá-la ou aboli-la.”

É exatamente isso o que aconteceu, está acontecendo e acontecerá com alguns países da América Latina, pois seus governos estão “oferecendo” as chances das mudanças ocorrerem pelos seus maus governantes oprimirem o povo por interesses outros que não os da nação formando uma legião de homens e mulheres que estão lutando por melhorias das suas condições de vida a fim de obterem a tão almejada dignidade expressa na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e nas suas próprias Constituições, as quais algumas estão em processo de substituição ou já foram substituídas formando novos pactos sociais de um novo tempo de esperança e retomada dos sonhos.

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